sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

ÁFRICA/EGITO - Os dias da revolução egípcia no testemunho de um missionário

Cairo (Agência Fides) - Pe. Renzo Mandirola, um missionário da SMA (Sociedade das Missões Africanas), enviou à Agência Fides o testemunho sobre os recentes acontecimentos no Egito, onde permaneceu de 24 janeiro a 12 de fevereiro. "Fui ao Egito para pregar um retiro espiritual às irmãs egípcias de Nossa Senhora dos Apóstolos (NSA), o ramo feminino do meu instituto. Deveria se realizar no bairro de Maadi. Na frente do portão, se encontra o seminário copta-católico patriarcal, onde fazem cursos também as postulantes. O outro bairro, muito diferente do primeiro, é Shoubra que, não obstante o significado do seu nome de '”pequeno povoado” tem cerca de 4 milhões de habitantes. Lá, além da casa provincial da NSA, existe também a paróquia católica latina de Saint Marc dirigida pelos padres da SMA que estão presentes no Egito desde 1877. Lá também vivem quatro seminaristas que estão aprendendo árabe e cultura islâmica", disse Pe. Mandirola.
Depois de descrever a eclosão do primeiro movimento, o missionário observa: "não é certamente a polícia que falta no Egito, mas um determinado momento desapareceu. Os bairros não estavam mais protegidos, muitos criminosos libertados. As lojas e os bancos começaram a ser saqueados, incluindo o Museu Egípcio, com a cumplicidade de alguns policiais. As pessoas diziam que estava tudo liberado: provocar o caos para semear medo e depois reivindicar o direito de reivindicar a ordem. Nas mãos da polícia, que matou alguns e espancou outros, o ministro do Interior acusado de orquestrar o ataque contra a Igreja Copta de Santa Catarina de Alexandria, tudo isso fez perder muita credibilidade a este organismo do Estado. O exército, entretanto, que pode contar com um milhão de soldados, distinguiu-se por não se declarar contra o povo: "não atiraremos contra os manifestantes, disseram. Claro que fazia medo andar pelo Cairo no domingo 5 de fevereiro e ver em certas ruas da cidade, um tanque a cada dez metros" .
Pe. Mandirola salienta a resposta civil da população a situação: "Em Shoubra, como no resto do Cairo, foi bom ver os jovens que com o cair da noite tomavam nas mãos a situação para proteger seus bairros. E assim, diante de nossa paróquias se acendiam fogos foram onde se aqueciam e montavam guarda até o dia seguinte".
O missionário recorda que "todos aqueles que estavam na Praça Tahrir sempre disse disseram que o que os unia não era a religião ou a política, mas o desejo de criar um Estado secular com uma Constituição leiga capaz de assegurar a cada homem e mulher a mesma dignidade e os direitos e deveres, e a todos a oportunidade de professar livremente a sua fé".
"Neste contexto, também os cristãos deveriam ter a possibilidade de sentar à mesa onde será reformulada a Constituição e deveriam poder dar sua opinião, não para pedir privilégios, mas como para reivindicar como todos a possibilidade de ter um emprego, mesmo se são cristãos, e, finalmente, se sentirem em casa num país onde o cristianismo sempre esteve presente, desde o seu início", concluiu Pe. Mandirola . (L.M.) (Agência Fides 17/2/2011
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