quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Bispos reencaminham propostas ao Governo do Ceará e reforçam que seca é problema político

 
Tatiana Félix  - Adital
Para dar visibilidade e buscar soluções ao problema da seca no Estado do Ceará, um dos estados brasileiros que mais sofrem com a estiagem, que já dura mais de dois anos, bispos da Regional Nordeste I da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), apresentaram propostas em uma coletiva de imprensa concedida na manhã desta quarta-feira, 20 de novembro, em Fortaleza, onde participam de uma Reunião do Conselho Episcopal Regional (Conser).
Na coletiva, os religiosos chamaram atenção para a grave situação da seca no interior do estado, enquanto que em algumas regiões como a Chapada do Apodi e Russas, são encontradas grandes áreas verdes de fruticultura, o que contrasta com a realidade de muitas populações. "Então, quando o governo quer, certamente, as coisas acontecem. E por isso esse grande ponto de interrogação: Porque não existe vontade política de atender primeiro às pessoas que realmente sentem dia por dia, mês por mês, a falta de água?”, questionaram.
Dom José Haring, bispo de Limoeiro do Norte, citou o exemplo das cisternas que são de grande ajuda para o armazenamento de água e disse que é importante investir também na construção de mais poços profundos, obras simples que poderiam rapidamente resolver o problema da seca. "Quando existe a vontade política tudo é possível”.

Para pressionar o governo por ações mais concretas a fim de melhorar a convivência com a estiagem no semiárido, os bispos enviaram, pela segunda vez, um documento ao governador Cid Ferreira Gomes, e demais autoridades cearenses, onde contextualizam a situação do semiárido e de famílias da zona rural que sofrem com a falta de água, e apresentam propostas de ações emergenciais e estruturantes.
Sobre as ações estruturantes, chama a atenção o pedido de revogação da mensagem enviada pelo governador para a Assembleia Legislativa, que determina a redução de 50% da taxa sobre o uso de água para as empresas do empresário Eike Batista, e a suspensão da implantação de cisternas de plástico, que, além de não resistirem ao calor do sol, são fabricadas por empresas multinacionais, que, mais uma vez, são beneficiadas por ações do governo. Na carta assinada pela CNBB, Fórum cearense pela Vida no Semiárido, Movimento dos trabalhadores sem terra (MST) e outras entidades, eles defendem a construção de cisternas de cimento na própria comunidade, como forma de fortalecer a cultura de convivência com o semiárido.
Apesar de já terem enviado propostas e cobrado soluções ao Governo do Ceará em maio deste ano, os bispos afirmaram que nunca tiveram resposta. "A gente não combate a seca. A gente convive com ela. Toda vez que a seca acontece é como se fosse uma novidade, e não é novidade. É um fenômeno meteorológico, climático, que já vem de séculos. Então a novidade é o governo realmente assumir sua posição para que não sejamos surpreendidos quando acontecer uma seca como essa”, enfatizaram.
Os religiosos lembraram ainda que a Igreja Católica sempre iniciou projetos nas áreas de educação, saúde, assistência e promoção social, tanto no Ceará quanto no Brasil como um todo, frente a um "governo totalmente ausente”, mas ressaltaram que não é papel da Igreja realizar essas obras, e sim sentir as necessidades e lutas do povo para então fazer as devidas reivindicações ao governo, responsável por executá-las.
Dom João José da Costa, bispo da Diocese de Iguatu, disse que existem na cidade 32 comunidades rurais aonde não chega água. "Os pequenos açudes já secaram todos, então, o povo está passando fome, está faltando água. Muitos pegam o dinheiro do Bolsa Família para comprar água. Entre água e comida, para onde é que a gente corre?”.
Ele falou sobre a rapidez que o governo tem para construir megaprojetos para a Copa do Mundo 2014 e a falta de vontade em solucionar um problema tão básico na vida de todos. "Estiagem é um fenômeno natural, mas a seca é um problema político”, destacou.
Para dom João, resolver o problema da água, que é um bem natural, sobretudo em uma região semiárida, deveria ser a primeira prioridade do governo. "O que é mais prioridade para o nosso país? As grandes arenas que foram feitas com tanto dinheiro ou água e pão para quem precisa? Eu acho que a gente tem que olhar com muita verdade onde está o olhar do nosso governo, qual é a prioridade do governo, realmente enfrentar com seriedade a fome, a miséria, a falta d’água no nosso semiárido. Qual é a preocupação?”, questionou, citando ainda o desperdício de recursos públicos em obras abandonadas.
Como forma de tentar amenizar a situação da população local, dom João informou que várias instituições se juntaram para realizar a campanha ‘Natal Solidário’, sob o lema "Tive fome me deste de comer, tive sede me deste de beber”, que tem o objetivo de sensibilizar o povo e captar recursos para os necessitados. Ele convidou todos a pensarem nos irmãos que sofrem com a seca e a fazerem, neste ano, uma ceia "mais pobre”, ajudando a quem precisa. "É um gesto humano, cristão, essa partilha. As dioceses e o povo em geral podem se organizar e ajudar a campanha Natal Solidário em Iguatu”.

Fonte:.http://www.adital.com.br

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