O
Conselho Episcopal Pastoral (CONSEP) da Conferência Nacional dos bispos
do Brasil – CNBB, reunido nos dias 29 e 30 de novembro de 2011, vem
manifestar sua preocupação com a possível aprovação, pelo Congresso
Nacional, do projeto de reforma do Código Florestal brasileiro. Já
aprovado nas devidas Comissões do Senado Federal, o novo Código
Florestal, tão necessário ao Brasil, embora tenha obtido avanços
pontuais na Comissão do Meio Ambiente, como um capítulo específico para a
agricultura familiar, ainda carece de correções.
O projeto, ao manter ocupações em áreas ilegalmente desmatadas
(Artigos 68 e 69) e permitir a recuperação de apenas metade do mínimo
necessário para proteger os rios e a biodiversidade (Artigos 61 e 62),
condena regiões inteiras do país a conviver com rios agonizantes,
nascentes sepultadas e espécies em extinção. Sob o pretexto de defender
os interesses dos pequenos agricultores, esta proposta define regras que
estenderão a anistia a quase todos os proprietários do país que
desmataram ilegalmente.
O projeto fragiliza a proteção das florestas hoje conservadas,
permitindo o aumento do desmatamento. Os manguezais estarão abertos à
criação de camarão em larga escala, prejudicando os pescadores
artesanais e os pequenos extrativistas. Os morros perderão sua proteção,
sujeitados a novas ocupações agropecuárias que já se mostraram
equivocadas. A floresta amazônica terá sua proteção diminuída, com suas
imensas várzeas abertas a qualquer tipo de ocupação, prejudicando quem
hoje as utiliza de forma sustentável. Permanecendo assim, privilegiará
interesses de grupos específicos contrários ao bem comum.
Diferentemente do que vem sendo divulgado, este projeto não
representa equilíbrio entre conservação e produção, mas uma clara opção
por um modelo de desenvolvimento que desrespeita limites da ação humana.
A tão necessária proteção e a diferenciação mediante incentivos
econômicos, que seriam direcionados a quem efetivamente protegeu as
florestas, sobretudo aos agricultores familiares, entraram no texto como
promessas vagas, sem indicativo concreto de que serão eficazes.
Insistimos que, no novo Código Florestal, haja equilíbrio entre
justiça social, economia e ecologia, como uma forma de garantir e
proteger as comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas e de
defender os grupos que sabem produzir em interação e respeito com a
natureza. O cuidado com a natureza significa o cuidado com o ser humano.
É a atenção e o respeito com tudo aquilo que Deus fez e viu que era
muito bom (cf. Gn 1,30).
O novo Código Florestal, para ser ético, deve garantir o cuidado com
os biomas e a sobrevivência dos diferentes povos, além de preservar o
bom uso da água e permitir o futuro saudável à humanidade e ao
ecossistema.
Que o Senhor da vida nos ilumine para que as decisões a serem tomadas se voltem ao bem comum.
Brasília-DF, 30 de novembro de 2011
Fonte: CNBB
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